Os Batistas brasileiros celebram, no quarto domingo de novembro, o Dia do Ministro de Música Batista. Em nome da Associação dos Músicos Batistas Brasileiros (AMBB), parabenizo a todos os pastores de adoração, diretores de música, líderes de louvor, independente de como são chamados, felicito todos aqueles que lideram a música em nossas Igrejas. Parabéns, ministros!
Pergunto: há o que celebrar neste dia? Sim! Há muitos motivos para celebrar! Mas também há desafios a enfrentar nos próximos anos.
Podemos celebrar a fidelidade do nosso Deus que continua a chamar músicos vocacionados para o exercício deste ministério específico na Igreja local. É possível encontrar, em nossas Igrejas, sejam elas, grandes ou pequenas, um ou mais músicos locais que testemunhem seu chamado para o ministério de música. Definitivamente, não existe crise de vocação; a crise é outra, e será tratada logo mais.

Há motivo para celebrar, também, o fato de o ministério de música estar se tornando cada vez mais relevante nas Igrejas e na denominação. A valorização da música no culto público, nos pequenos grupos, nas obras sociais e nos demais ministérios da Igreja, têm exigido um grande investimento em recursos humanos e estruturais. É nítido como algumas Igrejas cresceram significativamente em técnica e em número de voluntários.
Não podemos deixar de celebrar também a grande capacidade que diversas Igrejas em nossa denominação desenvolveram de contextualizar seus cultos, tornando-os relevantes em suas comunidades, sem perder a centralidade da Palavra. Enquanto diversas denominações criaram regras litúrgicas rígidas buscando a uma dita “purificação” da Igreja e do culto, os Batistas brasileiros têm exemplos de sucesso com Igrejas que desenvolveram cultos relevantes, convidativos e proclamadores da santa Palavra de Deus.
Há mais para celebrar, mas no pouco espaço que tenho, não posso deixar de registrar alguns desafios.
O desafio do sustento
O Censo Batista de 2023 identificou que 84% das Igrejas da Convenção Batista Brasileira (CBB) têm até 200 membros. Isso mesmo! A maioria esmagadora de nossas Igrejas são pequenas, e acredita-se que mal conseguem sustentar dignamente o pastor titular. Estas Igrejas podem até desejar, mas não conseguirão sustentar mais um integrante na equipe ministerial. O que dirá de sustentar um ministro de Música bem capacitado, com formação superior?
Na pesquisa AMBB realizada também em 2023, quando perguntados quanto ao tempo dedicado ao cargo ou função na Igreja, cerca de 15% dos entrevistados informaram que se dedicam em tempo integral. Os demais 85% atuam em tempo parcial na Igreja.
Diante desta realidade, é possível concluir que a maioria dos ministros de música das Igrejas Batistas brasileiras precisarão de um outro trabalho para conseguirem se sustentar dignamente. Conclui-se também que o ministério de Música da maioria das Igrejas Batistas se contentará com atividades básicas, muitas vezes de manutenção do ministério, ou seja, aquelas que não demandam de uma liderança em tempo integral.
O desafio da formação
Para o ministro de Música vocacionado, é muito importante um diploma reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC) devido a necessidade de complementar a renda com um trabalho secular. A visão do passado de oferecer cursos livres demonstrou, pela sua baixa procura nos últimos anos, que não atende às necessidades deste tempo, principalmente por dificultar que os egressos de nossos seminários consigam trabalho em espaços públicos e privados.
O desafio da formação ministerial musical também passa pela implementação de ações estratégicas em três eixos fundamentais: a formação continuada, o currículo e o incentivo.
Quanto a formação continuada, é preciso estabelecer programas de formação musical básica nas Igrejas, oferecer cursos de graduação com reconhecimento do MEC sem perder a ênfase ministerial, e implementar linhas de pesquisa a nível de pós-graduação nas áreas de culto, pastoreio de artistas e gestão ministerial.
O currículo formativo precisa contemplar além das disciplinas técnico – musicais, conteúdo nas áreas de gestão de pessoas, pastoreio de artistas, equilíbrio emocional e tecnologias aplicadas a música; para citar algumas.
E finalmente, é preciso atentar para o fato de que os cursos que formam os líderes denominacionais (pastores, ministros etc.) são de difícil acesso para a maioria dos membros das nossas Igrejas quando levado em consideração o preço das mensalidades. Em um Brasil Batista com um número razoável de pequenas Igrejas e grande população com baixos salários, é possível concluir que o acesso aos cursos dos nossos seminários é privilégio de poucos! Desde o início dos cursos de formação de liderança para líderes Batistas, o ensino foi subsidiado; em grande parte pelos nossos irmãos norte americanos que serviam como professores missionários e pelo investimento patrimonial que faziam constantemente. Não será possível avançar como desejado se não houver mais investimento na formação teológica.
O desafio do ministério colegiado
O ministro de Música exerce uma função essencial como auxiliar do pastor titular da Igreja; ele absorve todas as demandas de gestão do culto, desde a fase de planejamento até a sua execução. Somente as demandas de culto exigem muitas horas de trabalho técnico e administrativo, sem contar as incalculáveis ações de pastoreio das diversas equipes musicais envolvidas.
Todo esse tempo de trabalho, quando assumido por um ministro de música, permite ao pastor da Igreja se dedicar a outras demandas que requerem a sua atenção direta. Quando esta engrenagem do ministério colegiado está bem ajustada, Igreja – pastor e ministro de música são abençoados e Deus é glorificado!
Existem diversos casos bem-sucedidos de ministérios colegiados em nosso Brasil Batista; é possível encontrar colegiados simples, quando há apenas um auxiliar do pastor, e colegiados maiores com dois ou mais auxiliares. Independente do tamanho do colegiado, o grande desafio encontrado é a perspectiva do trabalho em equipe, isto porque gerações diferentes possuem perspectivas diferentes do modelo organizacional e gerencial de uma organização.
Pastores Baby Boomers (nascidos entre 1946 e 1964) acreditam em uma estrutura de comando hierárquica, onde ele é o topo da cadeia e os que estão abaixo dele são meros executores das ordens superiores. Já os integrantes da Geração Y (nascidos entre 1981 e 1996) e principalmente a Geração Z (nascidos entre 1997 e 2012) preferem estrutura de comando mais horizontais, que oportunizam o diálogo, a cooperação e a sinergia das partes.
Não é difícil encontrar base bíblica para ambos os paradigmas de liderança mencionados, e nem deve ser esta a discussão: qual o paradigma mais bíblico ou espiritual? A realidade é que o número de ministérios independentes, novas comunidades, novos tipos de Igrejas estão surgindo em todo lugar, impulsionados por líderes mais jovens que não encontraram abertura para novas ideias gerenciais em suas comunidades de origem.
A questão é: quais os novos paradigmas para o ministério colegiado nas Igrejas Batistas brasileiras e como estabelecer um processo de inclusão das novas gerações nos processos decisórios das Igrejas?
Conclusão
Como músicos Batistas brasileiros, desejamos continuar comemorando este dia por muito tempo; mas isto só será possível se juntarmos todas as forças. Igrejas, Associações, Convenções estaduais e a CBB precisam ter este valor arraigado para juntas, inaugurarmos um novo tempo para o ministério de música das nossas Igrejas.
Um bom começo é você se juntar à AMBB e fazê-la cada vez mais forte e relevante, pois ela pode ser o grande canalizador de toda essa sinergia denominacional, devolvendo para as Igrejas materiais de apoio e capacitação para nossos músicos. Juntos somos melhores!.
Extraído de www.convencaobatista.com.br